Caríssimas e caríssimos,
Há coisas a mais?
Consumimos (e desejamos vender) o supérfluo?
À saída
do espaço comercial do lugar onde vivemos observamos um pedaço do mundo… E
identificámos mais nossas a proposta do irmão Aloïs de Taizé (1): “Olhemos para
o nosso modo de vida e procuremos simplificar o que pode ser artificial e o que
é excessivo. Simplificar a nossa vida pode ser fonte de alegria. Abramos
espaços de partilha: o que podemos dar e receber?”
Fraternalmente,
grão de mostarda
(1) «Quatro propostas para «ser sal da terra», ver http://www.taize.fr/pt_article17507.html
A NOITE DAS
COISAS A MAIS…
O “centro comercial” (se assim se pode chamar
a um espaço com pouco mais de uma dezena de lojas) encerrava. No pequeno
corredor, muitas vitrinas exibem um papel colado: “Aluga-se loja”. Ao
comentário de que cada vez são mais os estabelecimentos vazios, a senhora tem
resposta pronta: “Que havemos de esperar: hoje há coisas a mais e as pessoas já
têm tudo”.
Era já noite. As preocupações do dia parecem
perder peso, quando deixamos pousar o comentário daquela mulher, cujo encargo
era fechar a porta de acesso ao “centro comercial”. E no coração ecoaram
palavras do irmão Aloïs de Taizé: “E preciso encontrar um bom equilíbrio entre
as necessidades vitais e o desejo de ter sempre mais.”
“Há coisas a mais…” Na verdade, continuamos a
viver num mundo de montras, fazendo um sistemático apelo ao consumo; não o
consumo inteligente, capaz de responder às necessidades humanas, mas sim a uma
total adição ao desejo de tudo ter, de tudo possuir… Temos dois modelos de
sapatos, há comprar mais dois; oferecemos aos garotos sumos com sabor a laranja
e a maracujá, é necessário então ter na mesa também outras garrafas com sabor a
maçã e ananás e, junto ao prato da refeição, um “tablet”… A lista poderia
prolongar-se indefinidamente: o telemóvel que ainda funciona trocado por um
outro que já inclui um pequeno “truque” para ver em tempo real os resultados do
futebol; a aquisição da cafeteira do café por uma que também consegue fazer um
“galão” logo de manhã cedo, quando apressados corremos para o trabalho.
E assim julgamos estar a dar resposta ao
anseio de felicidade que o nosso coração anseia…
Como o actual modelo de sociedade já nos
tornou adictos compulsivos, quando alguém pretende resolver uma situação de
desemprego ou de “início de vida” a única saída que vislumbra é a de abrir um
negócio – a negação do ócio… Existem mesmo programas nas instituições da
Administração Pública destinados a apoiar essa solução; os bancos prometem
financiamento aos jovens empresários e aos que pensam reiniciar uma nova
carreira, para que abalancem a ter o próprio negócio, slogan tão actual nestes
“tempos de oportunidades”, para usar o jargão de políticos, sociólogos e
comentadores. Depois anunciam-se números espectaculares de abertura de pequenas
empresas, sem nunca contabilizar e dar conhecimento dos problemas acrescidos de
quantos se viram forçados a fechar portas, quantas vezes logo ao fim de meses
de as terem aberto.
“Há coisas a
mais…” COISAS que pretendem ser a respostas a falsas necessidades. E assim tudo parecerá razoável e justificado, porque o
coração facilmente se afeiçoa ao que consegue dominar, ao desejo pelo desejo.
Passando este a ser o único horizonte da nossa vida, o dom da vida será
remetido para o absurdo… A propósito, Eckart Tolle recorda-nos: “O ego
identifica-se com o ter, mas a sua satisfação por ter algo é relativamente
superficial e de pouca duração. Uma característica intrínseca ao ego é uma
sensação de insatisfação (…)” (*).
Como não deixar-me encerrar nesta insatisfação? Que
caminhos percorro para que em mim germine o essencial da minha humanidade?
Fazendo a aprendizagem de que a realização humana – o SERMOS – não depende das
coisas exteriores, o nosso coração buscará, como as raízes da árvore, o terreno
necessário para se ALIMENTAR.
(*) Eckart Tolle, “Um novo mundo – Despertar
para a essência da vida”, Pergaminho, 2006
grão
de mostarda
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