O ÚNICO AMOR,
É O QUE SE
ENTREGA NA GRATUIDADE…
Conhecida popularmente como Mariquita-de-Perna-Clara, o seu peso não vai além dos
12 gramas. Todas as primaveras, esta pequenina voa mais de 2500 quilómetros
sobre o mar para se reproduzir. Chegou agora, em finais de Março, às florestas
boreais da América do Norte e só dali sai, já com família aumentada, no final
do outono para regressar ao seu lar de inverno, na América do Sul (1).
Identificado
pelos cientistas como “Setophaga
striata”, este pássaro não se rende à sua vulnerabilidade, arriscando uma
travessia sem qualquer certeza de chegar ao seu destino. É num local mais ameno
que prepara as condições para procriar. No Sul, na ilha de
Espanhola ou em Porto Rico, nas Caraíbas, a fragilidade dos seus descendentes ficaria em risco, pela
possibilidade de não conseguirem conviver com temperaturas menos afáveis.
Mariquita-de-Perna-Clara
entrega-se a um
gesto totalmente gratuito, sem se perguntar pelos riscos… Vive da confiança em
si mesma, assim como da certeza de cada um dos seus lugares de acolhimento, a
Norte ou a Sul, permanecerem disponíveis, inteiros, numa solidariedade total. A
pequenina ave procura somente espaços de hospitalidade, enquanto as florestas
reconhecem que o seu tesouro é conservar-se vivas.
Avezinha e bosques do
Norte e do Sul alimentam-se deste relacionamento, desta permuta… A Natureza
deixa-se habitar por esta beleza profunda de não se afadigar pela ânsia, pela
insatisfação de tudo possuir e do supérfluo. Na Natureza não existem caminhos de
busca isolada; a sua “experiência de vida” é realizada num total intercâmbio,
numa simbiose integral.
Confiança e gratuidade
Quando se inicia um
percurso de confiança absoluta, a ansiedade e a resignação deixam de tomar
conta das nossas vidas. Não se trata de entregar a nossa liberdade a um
qualquer “destino”, mas sim de, no momento de cada decisão, ensinar o nosso
coração que o caminho individualista como itinerário de felicidade é uma
ilusão.
“A confiança não é
uma ingenuidade cega nem uma palavra fácil, mas provém de uma escolha (…).
Todos os dias somos chamados a refazer o caminho que vai da inquietude à
confiança” (2).
Abrir caminhos de
confiança não é uma aventura sem futuro. Aquela avezinha, apesar da sua fragilidade, só se anima a empreender cada
viagem, a partir da experiência acolhedora das florestas, no Norte e no Sul.
Também os desertos da desconfiança humana só serão possíveis de transpor quando
cada uma e cada um de nós se propuser a assumir a atitude daqueles bosques. Reconheceremos,
então, que as nossas capacidades, as nossas possibilidades humanas não são
património para sustentar o nosso individualismo.
Somente uma vida
construída na confiança e na gratuidade total, visíveis em cada relação de
genuína hospitalidade e momentos de partilha fraterna, é que permitiu a Jesus
que a morte não tomasse conta da sua VIDA…
(2) Irmão Aloïs,
“Rumo a uma nova solidariedade” in Carta de Taizé, 2012.
Foto:
PÚBLICO/Centro para Ecoestudos de Vermont
grão
de mostarda
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