quarta-feira, 2 de maio de 2012

DE QUE MUNDO SOMOS?


Caríssimas e caríssimos,

nesta semana, De que mundo somos? fala-nos de uma urgência do tempo atual: “dependentes do Amor“. Eles, escreve Luísa Alvim na sua carta (ver ANEXO), são os visionários de “um mundo novo”, que com “o seu gesto mínimo alteram a ordem e o ritmo das vidas desgraçadas e doentes que encontram ao seu redor”. 

Esta reflexão, torna-nos presentes palavras do irmão Roger, escritas há mais de uma década: «Aqueles que buscam viver na simplicidade, estão atentos a não ser ‘mestres da inquietude’, mas a permanecer como ‘servidores da confiança’». Esta é a urgência da família humana...

Fraternalmente,

grão de mostarda

Luísa Alvim, cristã empenhada na paróquia católica de S. Victor, em Braga – os seus “diários” da catequese no Facebook constituem verdadeiras parábolas sobre o Amor Infinito --, é também membro do Metanoia – movimento de profissionais católicos. Técnica superior (área de Biblioteca e Documentação), na Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão – actualmente a trabalhar na Casa de Camilo - Museu e Centro e Estudos –, diz-se uma “sonhadora do impossível”.

Valentim Gonçalves é pároco da comunidade católica de S. Pedro do Prior Velho, desde a sua constituição como paróquia, em Outubro de 1999. Porém, a população do Prior Velho (concelho de Loures) já conhece este missionário do Verbo Divino desde há duas décadas, quando começou a empenhar-se no serviço aos moradores da Quinta da Serra – bairro ilegal, constituído maioritariamente por imigrantes africanos. Vice-provincial da sua congregação e membro da Comissão de Justiça e Paz dos Institutos Religiosos, ainda desenvolve trabalho na antiga Quinta do Mocho (actual Terraços da Ponte, em Sacavém), igualmente habitado por uma imensa população de imigrantes africanos.


Viva caríssimo Valentim!

Foi uma Páscoa abençoada, como previas na tua última carta, e a interpelação de salvar tudo e todos terá que estar sempre a desafiar-nos! Fazer cruzar o caminho dos nossos irmãos com o caminho do Ressuscitado, permitir que todos experimentem um encontro com ele através do nosso coração compassivo e uma presença viva nos outros.

Ao ter presente o tema-pergunta “De que mundo somos?”, que nos une nestas cartas, fico sempre perplexa com o mistério da vida, com todas as respostas diligentes que cada um de nós dá individualmente e em comunidade. Penso, também, nas pessoas profundamente resignadas e naquelas que vivem no ceticismo, sem vislumbre de um tempo de esperança. Até neste tempo de crise, no tempo de chorar, temos que consolar na esperança e fazer acreditar que se seguirá um tempo de alegria. 

A missão de colocar no coração dos outros a dimensão de eternidade é a faceta do tempo que mais me comove. Anunciar o evangelho no tempo de doença e de pobreza é revelar um tempo medicinal e sagrado que só é possível gozando e ensinando a confiança no Pai. O sucesso na vida é o reconhecimento que todos os tempos são tempos de Deus e que depositamos o presente nas suas mãos, em total liberdade para aceitar e receber por vezes o nada, mas gratos pelo êxito da dependência e pela dimensão do eterno na velocidade do tempo.

Somos deste mundo em veloz andamento, que ambiciona uma falsa riqueza e que nos propõe genericamente uma vida comprada nos hipermercados e nos triunfos do trabalho. Mas neste glorioso mundo em que vivemos existem também os dependentes do Amor a propor uma vida não tão centrada no trabalho excessivo e na aquisição exagerada dos meios para viver, a propor um bem-estar com o tempo, a viver equilibradamente na natureza e a partilhar o que se tem com os outros, abertos à confiança total do Amor. 

O mundo de hoje é destes visionários, dos que acreditam que há vida para além dos despejos das habitações, dos dramas de não ter alimentos para os filhos, de não ter possibilidade de trabalho, de nada ter e nada ser, e que com sua presença evangélica e o seu gesto mínimo alteram a ordem e o ritmo das vidas desgraçadas e doentes que encontram ao seu redor. 

Qual o segredo que possuem para a criação de um mundo novo? 

Afirmas, na última carta, que a chave do segredo não está nos livros, nos títulos, nas normas humanas, mas na disponibilidade interior de compassivamente olhar o próximo e de se alimentar do Amor Infinito. Temos que repetir exaustivamente que é preciso ir ao Pai para receber TUDO, com coragem e humildade de pedir a mão que salva. 

O segredo é ser um pedinte que dá, um professor que aprende, um dador que recebe. Pedimos a mão que salva para salvar a vida do outro, e neste círculo espacial do mundo em que estamos e somos, encontramos o tempo para o perder na eternidade de Deus. Em nome de quem dou a mão?

Abraço fraterno,

Luísa Alvim, que acredita que ao gritar pela salvação, Jesus estende-me a mão, segura-me e permite que caminhe pelas águas revoltas a serenar e a tranquilizar os que estão ao meu lado (Mateus 14, 22-33*).

*texto citado: ”...Depois disse aos discípulos que embarcassem e passassem à frente para a outra margem, enquanto ele despedia a multidão. E depois de despedi-la, subiu só à montanha para orar. E ao anoitecer ainda permanecia, sozinho, ali.”



Sem comentários:

Enviar um comentário