segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

ESCUTAR A VIDA

Jorge Guerrero nasceu no Paraguai. Depois de um curso profissional na “Teach a Man to Fish”, pretendia seguir Agronomia. Todavia, não tinha os meios financeiros suficientes para continuar a estudar. Mas com uma ideia, nascida em resultado do que aprendera, conseguiu encontrar uma solução: Jorge contratou a criação de uma horta orgânica com um lar de idosos possuía terrenos agrícolas que não eram trabalhados. Parte da produção é entregue para o sustento dos idosos e o que resta da produção, após vender no mercado, permite-lhe a criação de um fundo para prosseguir Agronomia. E o sucesso da marca que ele criou para os seus produtos, a Biogran, foi tão significativo que, agora propõe-se a criar uma empresa... 

São histórias como esta que dão sentido à “Teach a Man to Fish” – instituição de solidariedade social que, em países africanos e da América Latina, “ensina a pescar”, proporcionando a muitos seres humanos, de facto, meios de vida verdadeiramente sustentáveis. Foi precisamente a partir do conceito “dar um peixe a um homem permite-lhe comer por um dia, mas ensiná-lo a pescar, permitir-lhe-á comer todos os dias da sua vida”, que aquela instituição, através de projectos de Educação, leva jovens de países em desenvolvimento a construírem o seu próprio futuro.

Paulo França escolheu o exemplo desta instituição de solidariedade social para a reflexão do Escutar a vida desta semana (ver ANEXO). Que benefício teria, no nosso país, uma ideia semelhante, tendo em conta a nossa dependência do exterior? E que possibilidades de futuro permitira aos jovens desempregados, quando o sector do nosso país se vê praticamente reduzido ao sector terciário?  Nos momentos de indefinição, quando a urgência exige reencontrar caminhos humanizadores, é possível transformar exemplos como este em incentivo?
Fraternalmente,

grão de mostarda

Teach a Man to Fish

Em Novembro passado, o jornal “Metro” publicou um artigo sobre educação que relatava uma experiência pedagógica que tem vindo a ser desenvolvida principalmente no Paraguai, estendendo-se a diversos países como o Uganda, a Nicarágua, o Quénia ou a Bolívia, por uma instituição de solidariedade social designada por Teach a Man to Fish.

Este novo conceito de escola cria microempresas dentro das escolas (agrícolas) com dois objetivos essenciais: criar nos estudantes competências empresariais através da prática do trabalho, garantindo, alongo prazo, a sustentabilidade económica da própria escola com os lucros obtidos pelas empresas existentes dentro da escola, fazendo face à crescente perda de fiabilidade das políticas financeiras dos Estados que tem vindo, por via dos seus sucessivos governos, a desinvestir internacionalmente na educação.

Os curricula integram as ciências exatas e humanas e a prática da agricultura, laticínios, entre outras. Estas atividades sustentam o pagamento das propinas dos estudantes que vão fazendo o seu curriculum estudando e trabalhando. Desta forma, chegam ao final do curso, que pode conferir licenciatura, com grandes oportunidades de colocação nas empresas fora da própria escola. 

Além de ficar garantida a sustentabilidade independente da escola através da produção das suas empresas, têm sido criadas novas empresas geradoras de novos empregos pelos próprios alunos. Estes alunos pretendem tornarem-se líderes com capacidade de retirar as comunidades rurais da pobreza e da exclusão.

O valor do trabalho é um conceito inerente e essencial. Aqueles estudantes têm um esforço intelectual e desgaste físico no trabalho empresarial que desenvolvem durante a sua formação e aprendizagem. 

Este conceito de escola adequa-se ao meio real e às necessidades das pessoas, onde todos são parte integrante no sucesso. 

No mesmo ano (2011), a Teach a Man to Fish lançou um desafio chamado “international school enterprise challenge” que consistiu em colocar à prova a capacidade de 600 escolas em criar a sua própria empresa, mesmo sem ajuda financeira. Surgiram, então, projetos de produção de diversas variedades de chá do Nepal, malas de ganga reaproveitada das Maurícias e pensos higiénicos feitos a partir de bananeiras do Uganda.

Procuremos pensar sobre a nossa escola básica, secundária e superior, em Portugal, e imaginemos a utilidade de se ensinar e aprender com base na filosofia “Teach a Man to Fish” (1), numa fase em que a nossa integração na União Europeia acabou com o nosso setor primário e secundário e, reduzindo-nos, enquanto país, ao setor terciário, acabou por desequilibrar a nossa balança comercial, tornando-nos num país dependente do exterior, à mercê dos interesses especulativos das economias mais poderosas.

(1)  http://www.teachamantofish.org.uk

Paulo França

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