terça-feira, 4 de dezembro de 2012

DE ONDE SOPRA O VENTO?



Caríssimas e caríssimos,

iniciamos hoje uma nova temática, nas reflexões do grão de mostarda: DE ONDE SOPRA O VENTO... O título foi-nos sugerido a partir do encontro de Nicodemos com Jesus (ver evangelho de João 3, 1-17). Depois de Nicodemos, alto funcionário do sistema do Templo, se interrogar: “Como é que um homem idoso pode voltar a nascer?”, Jesus deixou-o com uma das mais belas palavras sobre a liberdade interior: “...Não te admires por eu te dizer que todos devem nascer novamente. O vento sopra onde quer; ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece também com aquele que nasce do Espírito”.
Os textos não terão uma regularidade. Pensámos que, aqueles a quem solicitámos estas reflexões, deverão ter a liberdade interior para connosco partilharem DE ONDE SOPRA O VENTO, quando o “sentido da vida” proporcionar ou animar uma busca de sentido…
Hoje, Adérito Marcos, que nos tem acompanhado nas reflexões semanais “Escutar a vida”, escolheu o exercício da autoridade nas “comunidades de irmãos e irmãs que seguem a Jesus” como tema da sua reflexão (ver ANEXO).
Que modelo propõe Jesus? Adérito Marcos anota: “Jesus que viveu como irmão entre os seus discípulos”. Este seu modelo convoca-nos à simplicidade e desprendimento, “sabendo que a alegria de viver vem pelo servir”, sublinha.
Com estima fraterna,
grão de mostarda



Do exercício da autoridade na construção do Reino



 
 



 
    Liderar como Jesus é procurar sem cessar e amplificar no outro a sua Bondade e Humanidade






Quantas e quantas vezes assistimos perplexos ou mesmo sofrendo na própria pele os efeitos de um exercício da autoridade, de superiores hierárquicos ou mesmo de colegas, transformado em mera ação de despotismo. O despotismo é sinónimo de pequeno poder, de necessidade patológica de domínio do outro, fonte de sofrimento para quem o exerce e para os que lhe sofrem as consequências.    
A este respeito Jesus apresentou uma solução radical: “todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande, seja vosso serviçal” (1). Ou seja, a autoridade só pode exercer-se, em última instancia, se for pelo serviço em prol do outro, individual e coletivo. Exercer a autoridade exige sobretudo conhecer o outro, não como mero executor de ordens, mas como pessoa, como um semelhante, um igual na condição humana.
Nas comunidades de irmãos e irmãs que seguem a Jesus o exercício da autoridade acarreta sobretudo a exigência de promover a concórdia e a fraternidade, em oposição à prepotência, o que obriga a ser irmão ou irmã entre iguais. Tal não é compatível com a sacralização do líder como comumente ocorre nas igrejas onde o bispo ou o pastor é “apartado” ou “ungido”, o que gera a diferenciação e o consequentemente distanciamento. Cria-se uma barreira, uma distância entre o líder e cada um dos irmãos, impedindo ou dificultando a igualdade social, condição fundamental para uma verdadeira fraternidade.
O líder deixa de ser um igual para assumir uma posição de primazia, algo infelizmente muito fomentado nas igrejas mais tradicionais, onde o bispo ou o pastor se assume como desigual perdendo a comunhão própria da paridade com os demais. A partir daqui o líder vive e atua em afastamento, apartado, deixando de seguir o exemplo de Jesus que viveu como irmão entre os seus discípulos, servindo-os como servo se necessário, demonstrando que somente entre iguais as relações humanas mais autênticas em abertura e dádiva de coração podem ter lugar.
Liderar como Jesus é estar presente junto do outro, como semelhante, partilhando a mesma condição humana, nas suas misérias e alegrias. É caminhar ao seu lado, amparar e orientar se necessário, servindo sempre, sem perder o sentido de humildade de que é apenas um instrumento.
Liderar como Jesus é procurar sem cessar e amplificar no outro a sua Bondade e Humanidade, convocando-o para a alegria de viver, em qualquer circunstância e condição de vida.
Liderar como Jesus é recusar a magnificência e as honrarias próprias dos líderes deste mundo, para viver em autenticidade de coração sem fingimentos nem presunção de superioridade, em simplicidade e desprendimento, dando-se em gratuitidade ao outro, sabendo que a alegria de viver vem pelo servir.
O exercício da autoridade na igreja de Jesus só tem afinal um propósito óbvio: convocar todos e cada um para a construção do Reino do Amor.
 (1) Mateus (20, 26) Bíblia Sagrada, Edição da Sociedade Bíblica de Portugal. Tradução em português de João Ferreira de Almeida. Edição Revista e Corrigida 2001. 

Adérito Marcos
44 anos,  irmão leigo membro da Paróquia S. Tomé, da Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica – Comunhão Anglicana, Castanheira do Ribatejo; membro do grão de mostarda.
Contato: aderito.marcos@gmail.com

•Ilustração: Jesus Bom Pastor, Foto de “jotasil” -  http://www.panoramio.com/photo/55746406



grão de mostarda

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