Caríssimas e caríssimos,
iniciamos hoje uma nova temática,
nas reflexões do grão de mostarda: DE ONDE SOPRA O VENTO... O
título foi-nos sugerido a partir do encontro de Nicodemos com Jesus (ver
evangelho de João 3, 1-17). Depois de Nicodemos, alto funcionário do sistema do
Templo, se interrogar: “Como é que um homem idoso pode voltar a nascer?”, Jesus
deixou-o com uma das mais belas palavras sobre a liberdade interior: “...Não te
admires por eu te dizer que todos devem nascer novamente. O vento sopra onde
quer; ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim
acontece também com aquele que nasce do Espírito”.
Os textos não terão uma
regularidade. Pensámos que, aqueles a quem solicitámos estas reflexões, deverão
ter a liberdade interior para connosco partilharem DE ONDE SOPRA O VENTO,
quando o “sentido da vida” proporcionar ou animar uma busca de sentido…
Hoje, Adérito
Marcos, que nos tem acompanhado nas reflexões semanais “Escutar a vida”,
escolheu o exercício da autoridade nas “comunidades de irmãos e irmãs que
seguem a Jesus” como tema da sua reflexão (ver ANEXO).
Que modelo
propõe Jesus? Adérito Marcos anota: “Jesus que viveu como irmão entre os seus
discípulos”. Este seu modelo convoca-nos à simplicidade e desprendimento,
“sabendo que a alegria de viver vem pelo servir”, sublinha.
Com estima fraterna,
grão de mostarda
Do exercício da autoridade na construção do Reino
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Liderar
como Jesus é procurar sem cessar e amplificar no outro a sua Bondade e Humanidade
Quantas
e quantas vezes assistimos perplexos ou mesmo sofrendo na própria pele os
efeitos de um exercício da autoridade, de superiores hierárquicos ou mesmo de
colegas, transformado em mera ação de despotismo. O despotismo é sinónimo de
pequeno poder, de necessidade patológica de domínio do outro, fonte de
sofrimento para quem o exerce e para os que lhe sofrem as consequências.
A
este respeito Jesus apresentou uma solução radical: “todo aquele que quiser
entre vós fazer-se grande, seja vosso serviçal” (1). Ou seja, a autoridade só
pode exercer-se, em última instancia, se for pelo serviço em prol do outro,
individual e coletivo. Exercer a autoridade exige sobretudo conhecer o outro,
não como mero executor de ordens, mas como pessoa, como um semelhante, um igual
na condição humana.
Nas
comunidades de irmãos e irmãs que seguem a Jesus o exercício da autoridade
acarreta sobretudo a exigência de promover a concórdia e a fraternidade, em
oposição à prepotência, o que obriga a ser irmão ou irmã entre iguais. Tal não
é compatível com a sacralização do líder como comumente ocorre nas igrejas onde
o bispo ou o pastor é “apartado” ou “ungido”, o que gera a diferenciação e o
consequentemente distanciamento. Cria-se uma barreira, uma distância entre o
líder e cada um dos irmãos, impedindo ou dificultando a igualdade social,
condição fundamental para uma verdadeira fraternidade.
O
líder deixa de ser um igual para assumir uma posição de primazia, algo
infelizmente muito fomentado nas igrejas mais tradicionais, onde o bispo ou o
pastor se assume como desigual perdendo a comunhão própria da paridade com os
demais. A partir daqui o líder vive e atua em afastamento, apartado, deixando
de seguir o exemplo de Jesus que viveu como irmão entre os seus discípulos,
servindo-os como servo se necessário, demonstrando que somente entre iguais as
relações humanas mais autênticas em abertura e dádiva de coração podem ter
lugar.
Liderar
como Jesus é estar presente junto do outro, como semelhante, partilhando a
mesma condição humana, nas suas misérias e alegrias. É caminhar ao seu lado,
amparar e orientar se necessário, servindo sempre, sem perder o sentido de
humildade de que é apenas um instrumento.
Liderar
como Jesus é procurar sem cessar e amplificar no outro a sua Bondade e
Humanidade, convocando-o para a alegria de viver, em qualquer circunstância e
condição de vida.
Liderar
como Jesus é recusar a magnificência e as honrarias próprias dos líderes deste
mundo, para viver em autenticidade de coração sem fingimentos nem presunção de
superioridade, em simplicidade e desprendimento, dando-se em gratuitidade ao
outro, sabendo que a alegria de viver vem pelo servir.
O
exercício da autoridade na igreja de Jesus só tem afinal um propósito óbvio:
convocar todos e cada um para a construção do Reino do Amor.
(1) Mateus (20, 26) Bíblia Sagrada, Edição da Sociedade Bíblica de
Portugal. Tradução em português de João Ferreira de Almeida. Edição Revista e
Corrigida 2001.
Adérito Marcos
44 anos, irmão leigo membro da Paróquia S. Tomé, da
Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica – Comunhão Anglicana,
Castanheira do Ribatejo; membro do grão de mostarda.
Contato: aderito.marcos@gmail.com
•Ilustração: Jesus
Bom Pastor, Foto de “jotasil” - http://www.panoramio.com/photo/55746406
endereço facebook:
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grão
de mostarda
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