Caríssimas e
caríssimos,
partilhamos convosco a
experiência vivida em comunidade neste tempo de Natal, um acontecimento de
comunhão, um acontecimento de fraternidade… (ver ANEXO).
No final desta semana retoma-se
as reflexões “Escutar a vida” com Emília Pinto, Paula Constantino, Henrique
Scheepens e Constantino Alves – o seu “olhar a vida” entreabre-nos os corações
para a amabilidade e a confiança...
Com estima fraterna,
grão
de mostarda
Luta e contemplação
“Luta e contemplação: seremos
levados a situar toda a nossa vida entre estes dois pólos?” (1). Esta
interrogação do irmão Roger, enquanto força impulsionadora, tem acompanhado o
nosso projecto de vida, o nosso estar como vizinhos entre vizinhos…
Pressentir este apelo é tentar,
no quotidiano, responder aos vizinhos, buscando nas diversas circunstâncias
estabelecer laços fraternos de comunhão. Muitas vezes não é possível chegar a
todos, realizar tudo o que se considera necessário…
Neste tempo em que celebrámos o
nascimento de Jesus (2), vivemos esta experiência com duas mulheres. Uma está
há meio ano numa comunidade terapêutica para tratamento de dependência de
álcool. A outra vive só. Abandonou, há anos, o emprego numa empresa de
restauração e hotelaria, para cuidar da mãe e de uma irmã, acamadas por doença.
A primeira, alguns de vocês já a
conhece pelo nome fictício de Leonor, por respeito à sua privacidade. A sua
vinda possibilitou um reencontro com os pais. Não foi ainda possível ser
acolhida por eles na sua casa… Foi possível, contudo, restabelecer o diálogo
entre eles; possibilitar que se olhassem e que se abraçassem; no fundo, que
deixassem transparecer o mais profundo de si próprios, expressando sentimentos
há tantos anos enterrados e que, pouco a pouco, com o evoluir da caminhada da
Leonor irão certamente crescer e ganhar raízes nos seus corações…
A segunda, viveu dezenas de anos
numa gestão difícil das pensões que a mãe e a irmã recebiam. Depois da morte de
ambas ficou completamente desprovida de qualquer meio de sobrevivência. Há
pouco mais de quatro meses, sofreu uma paralisia facial… Não tem nada de seu.
Vive num pequena casa – construída pela mãe com a ajuda de vizinhos – onde o
cheiro da humidade persiste mesmo durante o Verão. E por ter esta “propriedade”
não lhe é concedido qualquer apoio estatal. Das limpezas que consegue fazer
recebe pouco mais de 100 euros; o restante para a sua subsistência vai
conseguindo do que colhe de um campo (cedido) que cultiva…
A presença destas duas mulheres
revelou-se um acontecimento de comunhão. Durante quatro dias, permitiu um
encontro mais pessoal, da realidade que cada um de nós vive. E, pouco a pouco,
se foi fazendo experiência de uma solidariedade fraterna, de uma escuta de
corações… Nada foi indiferente: afinal todos transportamos em nós sonhos e
interrogações, receios e esperanças.
Abriram-se os corações e a NOITE
ficou mais iluminada. Deixámos de ser “ainda” estranhos, para passarmos a ser
“mais” vizinhos entre vizinhos. Naqueles dias, a busca interior do Deus
amoroso, revelado na parábola do “filho pródigo” (Lucas 15, 11-24), ganhou
outra dimensão. E voltámos a escutar as palavras do irmão Roger: “Pressentes
isto? Luta e contemplação têm uma única fonte: Cristo, que é amor. Se rezas, é
por amor. Se lutas para dar um rosto humano ao homem explorado, é também por
amor…” (1).
grão
de mostarda
(1) “Viver para amar – palavras escolhidas”; Paulinas, 2010.
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