Caríssimas e
caríssimos,
O padre Henrique é missionário…
viveu muitos anos, na Pedreira dos Húngaros, partilhando uma barraca (de
madeira) com outros missionários, naquele que foi considerado o mais
problemático bairro da Grande Lisboa. Os seus moradores foram entretanto
realojados.
Hoje, a sua reflexão (ver ANEXO) deixa
transparecer a sabedoria de escutar das pessoas “que nos contam o lado positivo
da vida”; uma sabedoria nascida de um quotidiano partilhado em simplicidade…
Com estima fraterna,
grão
de mostarda
Escutar a vida…
Já tenho idade para escutar mais
do que agir. Mas o “bicho” que sou, apanha-se ainda na precipitação, às vezes,
antes de refletir e tentar compreender o que se passa com quem se aproxima, que
fala, que quer comunicar algo por me conhecer, ter-me como amigo, considerar-me
pessoa para conversar e não encontrar um “muro de aço”. Ai, a vida humana, como
ela é complicada!
Que cuidado devemos ter para
compreender que as relações mútuas são essenciais para a felicidade de cada um.
Não que uma felicidade escangalhada não se possa restaurar. Pode restaurar-se o
que não devia ter acontecido. Diz-me um jovem restaurador a quem pedi que
tratasse duma imagem do Coração de Jesus oferecida em muito mau estado e sem
uma mão: “o meu trabalho vai durar 3 meses; tenho que fazer isso fora de
horas”. Levou cinco, em especial por causa de colocar uma mão. Foi tarefa
delicada e de muita paciência. Escutar a
vida é delicado; se calhar não é dado a todos. Já afirmei, acima, de me
apanhar em precipitações que podem fechar a quem precise de alguém que escuta.
Não me levem a mal, leitoras e leitores desconhecidos, iniciar desta forma o
que se segue.
Na paróquia, a nobre actividade
da Catequese junta, aos sábados, não só crianças e adolescentes mas também
muitas mães e alguns pais. É boa oportunidade para dois dedos de conversa que
se tornam facilmente na escuta da vida.
Foi o caso quando perguntei a uma
das Marias: “Tem trabalho?” “Oh, padre, nunca me preocupo com isso”. A minha
pergunta desencadeou os tais dois dedos. Afirmou-me que já lhe aconteceu mais
que um despedimento, mas quem procura e aceita qualquer trabalho consegue
encontrá-lo. Com ela é assim. E, sorridente, esperava o fim da catequese da
filha para a levar com ela. Esta Maria não foi a primeira a afirmar semelhante
alegria. Alegrei-me com ela, pois é tão bom encontrar pessoas que nos contam o
lado positivo da vida e que expressam, em poucas palavras, o resultado do seu
esforço. A sua alegria multiplica-se nos familiares e amigos com quem priva.
Passaram-se três semanas e de novo se proporcionou encontrar-nos e, de
imediato, sai-se com esta: “Padre tenho mais um trabalho! Está a ver?”. Eu
estava mesmo a ver na cara a sua grande satisfação por me poder contar isto.
Quem nos dera escutar milhares doutras mulheres e homens satisfeitos e alegres,
a partilhar as suas alegrias com amigas/os da sua vida. As alegrias existem, as
alegrias contagiam, as alegrias escutam-se…
Henrique Scheepens, padre da Congregação dos Sagrados Corações
e co-responsável da paróquia católica de S. Bartolomeu da Charneca (Lisboa)
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